Filosofia da Grécia: história
A filosofia admite quatro fases na cronologia filosófica grega, coincidentes com os períodos históricos ou não.
Arcaico, que abrange os anos de 800 a 500
a.C., quando se inicia a formação da pólis, com o processo de urbanização, e a
colonização grega. É desse período o surgimento dos primeiros pensadores que
hoje conhecemos como pré-socráticos.
Período pré-socrático ou cosmológico, do fim do século VII a.C. ao fim do século
V a.C, quando a filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as
causas das transformações na natureza.
Clássico, que vai de 500 a 338 a.C. e
corresponde ao período de esplendor da civilização grega. As duas cidades
consideradas mais importantes desse período foram Esparta e Atenas, além de
Tebas, Corinto e Siracusa. São desse período as leis de Sólon, as aulas de
Sócrates, os diálogos platônicos e o Liceu de Aristóteles.
Período clássico ou antropológico, do fim do século V a.C. a todo o século IV a.C., quando a
filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e as
técnicas, e busca compreender qual é o lugar do homem no mundo.
• antropológico: Em grego, ântropos quer
dizer "homem"; por isso, o período socrático recebeu o nome de "antropológico"
Helenístico, de 338 a 146 a.C. instala-se a crise
da pólis grega com a invasão macedônica. Apesar de politicamente dominada, a
cultura e a filosofia grega se expandem para além das suas antigas colônias com
as posteriores conquistas de Alexandre, o líder da Macedônia. A mesma coisa acontece após a dominação romana.
Trata-se do último período da filosofia
antiga, quando a pólis grega desaparece como centro político e deixa de ser a
referência principal dos filósofos, uma vez que a Grécia encontra-se sob o
poderio do Império Romano. Os filósofos dizem, agora, que o mundo é sua cidade
e que eles são cidadãos do mundo. Em grego, mundo se diz cosmos, donde
esse período ser chamado o da filosofia cosmopolita.
Antiguidade tardia, de 150 a.C. a 450 d.C. A filosofia
neoplatônica influencia os teóricos do cristianismo. Essa expressão se refere preferencialmente ao período posterior a 100 d.C. por se considerar o
helenismo estendido por um período de decadência da filosofia grega, agora
dispersa em escolas menores, mas não menos importantes que a academia de Platão
ou o liceu de Aristóteles.
Datam desse período quatro grandes sistemas cuja influência será sentida pelo
pensamento cristão, que começa a formar-se nessa época: estoicismo,
epicurismo, ceticismo e neoplatonismo
A história grega segue muito de perto o
desenvolvimento político de suas cidades, desde os genos (núcleos familiares
com regras próprias em parte baseadas nas tradições religiosas) até a pólis, a
cidade ‘política’, do período clássico.
Pré-socráticos - Os filósofos da natureza
Cada
um dos filósofos gregos anteriores (VII a. C.) ou, em alguns casos,
contemporâneos a Sócrates (470-399 a.C.) são considerados pré-socráticos, que
se caracterizavam pela reflexão a respeito da origem e da essência do mundo
natural, em oposição às preocupações centrais do socratismo e doutrinas
posteriores com a ética e a teoria do conhecimento
Os
pré-socráticos, a partir da observação dos fenômenos da natureza, tentaram
compreender o mundo e podem ser considerados os pioneiros da ciência na busca
do conhecimento.
Eles
acreditavam que na própria natureza poderiam ser encontradas as explicações de seus fenômenos.
Alguns
pré-socráticos e suas substâncias primordiais:
Tales
de Mileto – a água (tudo vem do úmido)
Anaximandro
– indeterminado, infinito, e sempre em movimento
Anaxímenes
– o ar
Empédocles
– água, terra, fogo e ar, que combinados entre si, compunham a natureza
Anaxágoras
e Demócrito – átomos
Pitágoras
– números, isto é, nas relações matemáticas
Heráclito
– o fogo que representa a mudança, a transformação, o devir. “O homem não se
banha duas vezes nas águas de um mesmo rio”
Parmênides
– em oposição a Heráclito, Parmênides a firma que em tudo existe uma
permanência, mesmo na mudança é preciso que algo permaneça inalterável, existe
uma identidade nas coisas, “o ser é; e o não ser não é”.
Período pré-socrático ou cosmológico
A filosofia pré-socrática se desenvolve em cidades da
Jônia (na Ásia Menor): Mileto, Éfeso, Samos e Clazômena; em cidades da Magna
Grécia (sul da Itália e Sicília): Crotona, Tarento, Eleia e Agrigento; e na
cidade de Abdera, na Trácia.
Os principais filósofos pré-socráticos foram:
• os da Escola Jonica: Tales de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Anaximandro de Mileto e
Heráclito de Éfeso;
• os da Escola
Itálica: Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona e Árquitas de Tarento;
• os da Escola
Eleata: Parmênides de Eleia e Zenão de Eleia;
• os da Escola da
Pluralidade: Empédocles de Agrigento, Leucipo de Abdera e Demócrito de Abdera.
As principais características da cosmologia são:
• Uma explicação
racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da natureza.
• A busca do princípio natural, eterno,
imperecível e imortal, gerador de todos os seres. A cosmologia não admite a criação
do mundo a partir do nada; ela afirma a geração de todas as coisas
por um princípio natural de onde tudo vem e para onde tudo retorna. Esse
princípio é uma natureza
primordial chamado physis.
• physis: Palavra de origem grega que significa "fazer
surgir fazer brotar, fazer nascer, produzir"
A physis não pode ser conhecida pela percepção
sensorial (esta só nos oferece as coisas já existentes), mas apenas pelo
pensamento.
A physis é a natureza tomada em
sua totalidade, isto é, a natureza entendida como princípio e causa primordial
da existência e das transforações das coisas naturais (os seres humanos aí incluídos) e entendida como o conjunto ordenado e organizado de todos os seres
naturais ou físicos.
•
Que a
physis é imortal e as coisas
físicas são mortais.
•
Que o
mundo está
numa mudança contínua, sem por isso perder sua forma, sua ordem e sua
estabilidade. A mudança – nascer, mudar de qualidade ou de quantidade, perecer –
se diz em grego kínesis.
• kínesis: Vocábulo que significa "movimento". Por
movimento, os gregos não entendem apenas a mudança de
lugar ou a locomoção, mas toda e qualquer alteração ou
mudança
qualitativa e/ou quantitativa de um ser, bem como seu nascimento e seu
perecimento.
Essa passagem, no entanto, não é caótica, pois
obedece a leis determinadas pela physis.
Embora todos os pré-socráticos afirmassem as ideias que
acabamos de expor, nem por isso concordaram ao determinar o que era a physis.
Tales dizia que a physis era a água ou o úmido; Anaximandro
considerava que era o ilimitado, sem qualidades definidas; Anaxímenes, que era
o ar ou o frio; Pitágoras julgava que era o número (entendido como estrutura e
relação proporcional entre os elementos que compõem as coisas); Heráclito afirmou
que era o fogo; Empédocles, que eram quatro raízes (úmido, seco, quente e
frio); Anaxágoras, que eram sementes que contêm os elementos de todas as
coisas; Leucipo e Demócrito disseram que eram os átomos.
Período socrático ou antropológico
Com o desenvolvimento das cidades, do comércio,
do artesanato e das artes militares, Atenas tornou-se o centro da vida social,
política e cultural da Grécia, e viveu seu período de esplendor, conhecido como
o Século de Péricles.
É a época de maior
florescimento da democracia. Surgia, assim, a figura política do cidadão.
Para conseguir que sua opinião fosse aceita nas
assembleias, o cidadão precisava saber falar e ser capaz de persuadir os
demais. Com isso, uma mudança profunda vai ocorrer na educação grega.
Antes da instituição da democracia, as cidades eram
dominadas pelas famílias aristocráticas, senhoras das terras e do poder
militar. Essas famílias, valendo-se dos grandes poetas gregos, Homero, Píndaro
e Hesíodo, criaram um padrão de educação próprio dos aristocratas. Esse padrão
afirmava que o homem ideal ou perfeito era o guerreiro belo e bom. Belo: seu
corpo era formado pela ginástica, pela dança e pelos jogos de guerra, imitando
os heróis da guerra de Tróia (Aquiles, Heitor, Ajax, Ulisses). Bom: seu
espírito era formado escutando Homero, Píndaro e Hesíodo, aprendendo com eles
as virtudes admiradas pelos deuses e praticadas pelos heróis; a principal
delas era a coragem diante da morte, na guerra. A virtude era a aretê, própria dos melhores, ou, em grego,
própria dos aristoi.
• aretê: Palavra grega que significa "excelência e
superioridade"
O ideal da educação do Século de Péricles já não é a
formação do jovem guerreiro,
belo e bom, e sim a formação do bom cidadão.
Ora, qual é o momento em que o cidadão mais
aparece e mais exerce sua cidadania? Quando opina, discute, delibera e vota nas
assembleias. Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal a formação do
bom orador, isto é, aquele que sabe falar em público e persuadir os outros na
política.
Para dar aos jovens essa educação, substituindo a
educação antiga dos poetas, surgiram, na Grécia, os sofistas. Que
diziam e faziam os sofistas? Diziam que os ensinamentos dos filósofos
cosmologistas estavam repletos de erros e contradições e que não tinham
utilidade para a vida da pólis. Os sofistas ensinavam técnicas de persuasão aos jovens, que
aprendiam a defender a posição ou opinião A, depois a posição ou opinião contrária, não-A.
Sócrates
(469-399 a.C.)
Sócrates é citado com
frequência como um dos fundadores da filosofia ocidental. Contudo, nada
escreveu, não criou escola alguma nem elaborou qualquer teoria. O que ele fez
foi formular insistentemente perguntas que o interessavam e, ao fazê-lo,
desenvolveu uma nova maneira de pensar, um novo modo de investigar o que
pensamos. Isso foi chamado de método socrático, ou dialético (porque se
encaminha como um diálogo entre visões opostas), e lhe rendeu vários inimigos
em Atenas, onde vivia. Difamado como sofista (alguém que argumenta para vencer
a discussão, e não para chegar à verdade), foi condenado à morte sob acusação
de corromper a juventude com ideias
que solapavam as tradições.
Mas também teve muitos seguidores, entre eles Platão, que registrou as ideias socráticas
numa série de obras escritas, chamadas diálogos, nas quais Sócrates examina
vários temas.
O objetivo da vida
Sócrates não procurava respostas ou explicações definitivas: somente investigava a base dos conceitos que aplicamos a nós mesmos (como "bom" "ruim" e "justo"), porque acreditava que compreender o que somos é a primeira tarefa da filosofia.
O objetivo da vida
Sócrates não procurava respostas ou explicações definitivas: somente investigava a base dos conceitos que aplicamos a nós mesmos (como "bom" "ruim" e "justo"), porque acreditava que compreender o que somos é a primeira tarefa da filosofia.
A preocupação
central de Sócrates foi a investigação sobre a vida. De acordo com o relato da defesa em seu
julgamento, registrado por Platão, Sócrates preferiu a morte a ter de
encarar uma vida de ignorância: "A vida irrefletida não vale a pena ser
vivida"
Sócrates foi um dos primeiros filósofos
a considerar o que constituía uma vida "virtuosa”; para ele, tratava-se de
alcançar a paz de espírito como resultado de fazer a coisa certa, em vez de
viver de acordo com os códigos morais da sociedade. E a "coisa certa"
somente pode ser determinada por meio de um exame rigoroso.
Ele acreditava que a virtude (areté
em
grego, que na época implicava excelência e concretização) era "o mais
valioso dos bens" e que ninguém realmente deseja fazer o mal. Qualquer
pessoa que fizesse algo ruim estaria agindo contra sua consciência e, portanto,
sentir-se-ia desconfortável -e, como todos lutamos pela paz de espírito, não
seria algo que faríamos de boa vontade. O mal, ele pensava, era perpetrado pela
falta de sabedoria e conhecimento. A partir disso, concluiu que "há apenas
uma coisa boa: conhecimento; e uma coisa má: ignorância" O conhecimento é
indissociável da moralidade. É a "única coisa boa" e por essa razão
devemos sempre "examinar" nossas vidas.
Cuidado com
a alma
O cultivo do conhecimento, em vez de riqueza ou status,
seria o objetivo supremo da vida. Não uma questão de diversão ou
curiosidade, mas a razão pela qual existimos.
Em
Fédon, Sócrates diz que uma vida irrefletida leva a alma a ficar
"confusa e aturdida, como se estivesse bêbada" enquanto uma alma
sábia alcança a estabilidade e seu vagar chega a um fim.
Método
dialético
Segundo a lenda, um
amigo do filósofo perguntou à sacerdotisa de Apoio em Delfos quem era o homem
mais sábio do mundo. A resposta do oráculo foi que ninguém era mais sábio do
que Sócrates. Ao saber disso, o próprio Sócrates ficou pasmo e recorreu às
pessoas mais cultas que pôde encontrar para tentar refutar o oráculo. Descobriu
que essas pessoas apenas achavam que tinham respostas, mas diante do
questionamento de Sócrates esse conhecimento revelou-se limitado ou falso.
O método que ele usou para questionar o
conhecimento desses sábios foi inovador. Sócrates assumiu o ponto de vista de
quem nada sabia e simplesmente fez perguntas, expondo contradições nas
argumentações e brechas nas respostas para, gradualmente, extrair insights. Ele
comparava o processo à
profissão de sua mãe, parteira, auxiliando no nascimento de ideias
Por meio dessas discussões Sócrates compreendeu que o oráculo
de Delfos estava certo: ele era o mais sábio de Atenas, não por causa de seu
conhecimento, mas porque declarava que não sabia nada. Ele também percebeu que
a inscrição na entrada do templo em Delfos, gnothi seauton ("conhece-te
a ti mesmo"), era igualmente significativa. Para adquirir conhecimento
acerca do mundo e de si mesmo era necessário compreender os limites da própria
ignorância e remover as ideias preconcebidas.
Esse método de examinar um argumento por meio
da discussão racional a partir de uma posição de ignorância revolucionou o
pensamento filosófico.
Essa forma poderosa de argumento foi desenvolvida por Aristóteles
e, mais tarde, por Francis Bacon, que a utilizava como ponto de partida de seu
método científico. Tornou-se, por consequência, o alicerce não apenas da
filosofia ocidental, mas de todas as ciências empíricas.
Sócrates
contra os sofistas
Sócrates rebelou-se
contra os sofistas, dizendo que eles não eram filósofos, pois não tinham amor
pela sabedoria nem respeito pela verdade, defendendo qualquer ideia, se isso
fosse vantajoso. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a
mentira valerem tanto quanto a verdade.
Discordavam dos antigos poetas, dos antigos filósofos e dos sofistas,
o que propunha Sócrates? Propunha que, antes de querer conhecer a natureza e
antes de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo,
conhecer-se a si mesmo. Por fazer do autoconhecimento a condição
de todos os outros conhecimentos verdadeiros é que se diz que o período
socrático é antropológico, isto é, voltado para o conhecimento do homem.
O retrato que a história
da filosofia possui de Sócrates foi traçado por seu mais importante aluno e
discípulo, o filósofo ateniense Platão.
Sócrates fazia perguntas sobre as
ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que julgavam
conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, irritados,
curiosos, pois, quando tentavam responder ao célebre "o que é?", descobriam, surpresos, que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças,
seus valores e suas ideias.
"Só sei que
nada sei"
Sócrates procurava a essência real e
verdadeira das coisas, da ideia, do valor. Como a essência não é dada pela
percepção sensorial, e sim pelo trabalho do
pensamento, procurá-la é procurar o que o pensamento conhece da realidade e verdade de uma coisa, de uma ideia, de um valor.
As ideias de Sócrates
Para os poderosos de Atenas, Sócrates tomara-se um
perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso, eles o acusaram de
desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Levado à assembleia,
Sócrates não se defendeu e foi condenado a tomar um veneno, a cicuta.
Por que Sócrates não se defendeu?
"Porque", dizia ele, "se eu me defender, estarei aceitando as
acusações, e eu não as aceito. Se eu me defender, o que os juízes vão exigir de
mim? Que eu pare de filosofar. Mas eu prefiro a morte a ter de renunciar à
filosofia"
Sócrates nunca escreveu. O que sabemos
de seu pensamento encontra-se nas obras de seus vários discípulos, e Platão foi
o mais importante deles. Características gerais do período socrático:
• A filosofia se
volta para as questões humanas
• O pensamento deve
oferecer a si mesmo caminhos
próprios,
critérios próprios e meios próprios para saber o que é o verdadeiro e como
alcançá-lo em tudo o que investigamos.
• A filosofia está voltada para a definição das virtudes morais (do indivíduo) e das virtudes políticas (do cidadão).
• É feita, pela
primeira vez, uma separação radical entre, de um lado, a opinião e as imagens
das coisas, trazidas pelos nossos órgãos dos sentidos, nossos hábitos, pelas
tradições, pelos interesses, e, de outro lado, os conceitos ou as ideias. As ideias
se referem à essência invisível e verdadeira das coisas e só podem ser
alcançadas pelo pensamento puro, que afasta os dados sensoriais, os hábitos
recebidos, os preconceitos, as opiniões.
• A reflexão e o
trabalho do pensamento são tomados como uma purificação intelectual que
permite ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável, universal e
necessária.
• A opinião, as
percepções e imagens sensoriais são consideradas falsas, mentirosas, mutáveis,
inconsistentes, contraditórias e devem ser abandonadas para que o pensamento
siga seu caminho próprio no conhecimento verdadeiro.
• A diferença entre o sensível e o
inteligível.
• O sensível e o
inteligível:
O sensível são as
coisas materiais ou corpóreas cujo conhecimento nos é dado por
meio de nosso corpo na experiência sensorial ou dos órgãos dos
sentidos e pela linguagem baseada nesses dados. O sensível nos dá imagens
das coisas tais como nos aparecem e nos parecem, sem alcançar a
realidade ou a essência verdadeira delas. As imagens sensíveis
formam a mera opinião - a dóxa-, variável de
pessoa para pessoa e variável numa mesma pessoa, dependendo das circunstâncias. O
inteligível é o
conhecimento verdadeiro que alcançamos exclusivamente pelo pensamento. São as ideias
imateriais e incorpóreas de todos os seres ou as essências
reais e verdadeiras das coisas. Para Platão, a filosofia é o esforço do pensamento para abandonar o sensível e
passar ao inteligível.
Como os antigos pensadores gregos, Platão questionou a
natureza e a substância do cosmos e explorou como o
imutável e o eterno podiam existir num mundo em aparente transformação. No
entanto, diferentemente de seus predecessores,
concluiu que o "imutável" na natureza é o mesmo que o
"imutável" em moral e sociedade.
Em A república, Platão
descreve Sócrates fazendo perguntas sobre as virtudes, ou conceitos morais, a
fim de estabelecer definições claras e precisas. Sócrates tinha dito que
"a virtude é conhecimento" e que, para agir de maneira justa, por
exemplo, você devia primeiro perguntar o que é justiça. Platão sugeriu que,
antes de nos referirmos a qualquer conceito moral em nosso pensamento ou
raciocínio, devemos primeiro explorar o que
queremos dizer com esse conceito e o que o torna precisamente o tipo de coisa
que é.
Ele levantou, ainda, a questão de como reconheceríamos a forma correta, ou
perfeita, de qualquer coisa: uma forma que fosse verdadeira para todas as
sociedades e épocas. Ao fazer isso, Platão sugere que deve existir alguma
espécie de forma ideal das coisas no mundo em que vivemos – sejam essas coisas
conceitos morais ou objetos físicos –, da qual estamos cientes, de alguma
forma.
Todos nós temos em nossas mentes uma ideia de
uma cama ideal ou de um cão ideal, que usamos para reconhecer qualquer exemplar
específico.
Usando um exemplo matemático para reforçar seu argumento,
Platão mostrou que o verdadeiro conhecimento é alcançado pela razão em vez dos
sentidos. Ele afirmou que podemos formular em bases lógicas que o quadrado da
hipotenusa de um triângulo retângulo é igual à soma dos quadrados dos catetos,
ou que a soma dos três ângulos internos
de qualquer triângulo é sempre 180 graus. Sabemos da veracidade dessas
afirmações, ainda que o triângulo perfeito não exista em nenhum lugar no mundo
natural. Apesar disso, conseguimos apreender o triângulo perfeito (ou a linha
reta perfeita, ou o círculo perfeito) em nossas mentes, usando a razão. Platão
especulou, então, se tais formas perfeitas poderiam existir em algum lugar.
Mundo das ideias
Para ilustrar seu pensamento, Platão
apresentou o que se tornaria conhecido como a "teoria da caverna" Ele
nos convidou a imaginar uma caverna na qual
as pessoas estão aprisionadas desde o nascimento, amarradas, encarando a
parede ao fundo, na escuridão. Elas só podem olhar para a frente. Atrás dos
prisioneiros há uma chama brilhante que lança sombras na parede para a qual
eles olham. Há também uma plataforma entre o fogo e os prisioneiros, na qual
pessoas andam e exibem vários objetos de tempos em tempos, de modo que as
sombras desses objetos são lançadas na parede. Tais sombras são tudo o que os prisioneiros conhecem do mundo, e eles
não
têm noção alguma sobre os objetos reais.
Platão disse que tudo que nossos sentidos apreendem no mundo material não passa de imagens na parede da caverna, ou seja, são simples sombras da realidade. Conhecimento genuíno só pode vir do estudo das ideias, e isso só pode ser alcançado pela razão. Essa separação em dois mundos distintos – um, da aparência, e o outro, do que Platão considerou como realidade de fato – solucionou o problema da busca de constantes num mundo aparentemente em transformação. O mundo material pode estar sujeito à mudança, mas o mundo das ideias de Platão é eterno e imutável. No mundo das ideias de Platão há uma ideia de justiça, que é a justiça verdadeira, enquanto todos os exemplos de justiça do mundo material ao nosso redor são apenas modelos ou variantes menores.
Platão disse que tudo que nossos sentidos apreendem no mundo material não passa de imagens na parede da caverna, ou seja, são simples sombras da realidade. Conhecimento genuíno só pode vir do estudo das ideias, e isso só pode ser alcançado pela razão. Essa separação em dois mundos distintos – um, da aparência, e o outro, do que Platão considerou como realidade de fato – solucionou o problema da busca de constantes num mundo aparentemente em transformação. O mundo material pode estar sujeito à mudança, mas o mundo das ideias de Platão é eterno e imutável. No mundo das ideias de Platão há uma ideia de justiça, que é a justiça verdadeira, enquanto todos os exemplos de justiça do mundo material ao nosso redor são apenas modelos ou variantes menores.
Conhecimento
inato
Platão argumentou que
nossa concepção das formas ideais deve ser inata, ainda que não estejamos
conscientes disso. Ele acreditava que os seres humanos são divididos em duas
partes: corpo e alma. Nossos corpos possuem os sentidos, por meio dos quais
somos capazes de apreender o mundo material, enquanto a alma possui a razão,
com a qual podemos apreender o reino das ideias. Platão concluiu que a alma,
imortal e eterna, habitou o mundo
das ideias
antes do nosso nascimento e ainda deseja retornar àquele reino após nossa
morte. Por isso, as
variantes de ideias que o mundo dos sentidos apresenta nos soam como uma
reminiscência. Rememorar as lembranças inatas dessas ideias exige razão, um atributo da alma.
Para Platão, a tarefa do filósofo é usar a razão
para descobrir as formas ideais ou ideias.
Legado incomparável
As ideias de Platão chegaram até o islamismo
medieval e os pensadores cristãos, incluindo Santo Agostinho, que combinou as
ideias de Platão com as da Igreja católica.
Ao propor que o uso da razão, em vez da
observação, é o único caminho para adquirir conhecimento, Platão lançou os
alicerces para o racionalismo do século XVII.
Durante o
período Clássico surge uma filosofia sistemática
O filósofo Aristóteles de Estagira era discípulo de Platão. Passados quase quatro séculos
de filosofia, Aristóteles apresenta, nesse período, uma verdadeira enciclopédia de todo o saber que foi produzido e acumulado pelos gregos em todos os ramos
do pensamento e da prática, considerando essa totalidade de saberes como sendo
a filosofia.
Essa classificação e distribuição dos conhecimentos fixou, para o pensamento ocidental, os campos de investigação da filosofia
como totalidade do saber humano.
Cada campo do conhecimento é uma ciência (em
grego, epistéme).
O estudo dos princípios e das formas do pensamento, sem preocupação
com seu conteúdo, foi chamado
por Aristóteles
de analítica, mas, desde a Idade
Média,
passou a se chamar lógica. Aristóteles foi o criador da lógica como instrumento do conhecimento em qualquer campo do saber.
A lógica não é uma ciência, mas o
instrumento para a ciência e, por isso, na classificação das ciências feita por Aristóteles, a lógica não aparece, embora ela seja indispensável para a
filosofia e, mais tarde, tenha-se tomado um dos ramos específicos dela.
Aristóteles (384-322 a.C)
Aristóteles tinha dezessete anos quando
chegou a Atenas para estudar na Academia do grande filósofo Platão.
Aristóteles permaneceu na Academia, como
aluno e professor, até a morte de Platão, vinte anos depois.
Questionamento
de Platão
A ruptura com o ensino deu a Aristóteles
a oportunidade de satisfazer sua paixão pelo estudo da vida selvagem, o que
intensificou a impressão
de que a teoria das formas de Platão estava errada. É tentador imaginar que os
argumentos de Aristóteles já tivessem exercido alguma influência sobre Platão,
que em seus diálogos finais reconheceu falhas nas teorias mais antigas, mas é
impossível ter certeza.
Era simplesmente desnecessário assumir que há
um mundo hipotético das formas, quando a realidade das coisas já pode ser vista aqui na Terra, inerente às
coisas
cotidianas.
Talvez pelo fato de seu pai ter sido médico, os interesses
científicos
de Aristóteles se voltaram para o que hoje chamamos de ciências biológicas, enquanto a formação
de Platão tinha sido
firmemente baseada na matemática. Aristóteles considerava que certas
constantes podem ser descobertas investigando-se o mundo natural.
Confiando nos sentidos
O que o Aristóteles propôs mudou completamente a
teoria de Platão. Ao estudar o mundo natural, ele aprendeu que, ao observar as
características de cada exemplo de planta ou animal específico, podia construir
um retrato completo sobre o que o distinguia de outras plantas e animais. Tais
estudos confirmaram o que Aristóteles já acreditava: não nascemos com a
capacidade inata para reconhecer formas, como defendia Platão.
Cada vez que uma criança encontra um cão, por exemplo, ela nota
o que existe de comum entre esse animal e outros cães, de modo que pode
consequentemente reconhecer as coisas que tornam algo um cão. A criança então
forma uma ideia do "aspecto
canino" (ou "forma" como dizia Aristóteles)
que define um cão.
A forma essencial das coisas
Como Platão, Aristóteles preocupou-se em
encontrar algum fundamento imutável e eterno num mundo caracterizado pela
mudança. Mas concluiu que não há necessidade de procurar por esse lastro num
mundo de formas perceptíveis apenas à alma. A evidência estaria aqui, no mundo
à nossa volta, perceptível pelos sentidos. Aristóteles acreditava que as coisas
no mundo material não são cópias imperfeitas de alguma forma ideal de si
mesmas, mas que a forma essencial de uma coisa é, na verdade, inerente a cada
exemplo dessa coisa. Por exemplo,
"o aspecto canino" não é apenas uma característica
compartilhada pelos cães - é algo inerente a todo e qualquer cão.
O que é verdadeiro em relação aos exemplos no
mundo natural, raciocinou Aristóteles, também é verdadeiro acerca dos conceitos
relacionados aos seres humanos. Noções como "virtude"
"justiça" "beleza" e "bom" podem ser examinadas
da mesma forma. Como ele observou, quando nascemos nossas mentes são como
"folhas em branco" e quaisquer ideias que alcançamos só podem ser
recebidas por meio dos nossos sentidos. Ao nascer, não temos ideias inatas,
então não podemos ter noção de certo ou errado.
A única maneira com a qual podemos vir a conhecer a ideia
eterna e imutável de justiça é observando como ela se manifesta no mundo à
nossa volta.
Assim, Aristóteles afastou-se de Platão não ao
negar que as qualidades universais existam, mas ao questionar sua natureza e os
meios pelos quais chegamos a conhecê-las (esta última é a questão fundamental
da "epistemologia" ou teoria do conhecimento). Essa mesma diferença
de opinião sobre como chegamos a verdades universais, mais tarde, dividiu os
filósofos em dois campos separados: os racionalistas (como René Descartes,
Immanuel Kant e Gottfried Leibniz), que acreditam num conhecimento a priori ou
inato; e os empiristas (incluindo John Locke, George Berkeley e David Hume),
que afirmam que todo conhecimento vem da experiência.
Classificação
biológica
Tão convencido estava Aristóteles de que
a verdade do mundo deve ser encontrada na Terra – e não numa dimensão mais
elevada –, que ele começou a colecionar espécimes de fauna e flora e as
classificou de acordo com suas características.
A partir dessa classificação biológica, montou um sistema
hierárquico - o primeiro do gênero, e tão bem construído que forma até hoje a
base da taxonomia.
· Taxonomia: ciência que lida com a descrição, identificação e
classificação dos organismos, individualmente ou em grupo
Uma vez que entendemos a natureza dessas formas, conseguimos
reconhecê-las
em todo e qualquer espécime.
Esse fato se torna mais visível quanto mais
Aristóteles subdivide o mundo natural. A fim de classificar uma espécie, como
um peixe, por exemplo, temos de reconhecer o que é que o torna um peixe – o
que, mais uma vez, pode ser conhecido pela experiência e não requer
conhecimento inato.
Explicação teleológica
Para entender a
ligação com a ética, precisamos primeiro ter em conta que, para Aristóteles,
tudo no mundo era explicado por quatro causas inteiramente responsáveis pela
existência de algo. Quais sejam: a causa material, ou de que algo é feito; a
causa formal, ou a disposição ou forma de algo; a causa eficaz, ou como algo é
levado a existir; e a causa final, ou a função ou o objetivo de algo. E é esse
último tipo de causa, a "causa final", que se relaciona à ética, um
tópico que, para Aristóteles, não está separado da ciência, mas é
essencialmente uma extensão lógica da biologia.
Aristóteles forneceu o exemplo de um olho: a causa final do olho (sua função) é ver. Essa
função é a finalidade, ou tetos, do olho (telos é a palavra grega da
qual deriva "teleologia", ou o estudo da finalidade na natureza). Uma
explicação teleológica sobre algo é, portanto, uma explicação sobre a
finalidade de algo. E conhecer a finalidade de algo implica, também, saber o
que é uma versão "boa" ou "má" de algo: o olho bom, por
exemplo, enxerga bem.
Compreendemos a natureza da "vida
virtuosa" ao vê-la nas pessoas à nossa volta.
O silogismo
No processo de classificação,
Aristóteles formulou uma forma sistemática de lógica que aplica a cada espécime
para determinar se ele pertence a certa categoria. Por exemplo, uma
característica comum a todos os répteis é o sangue frio. Então, se um espécime
particular tem sangue quente, não pode ser réptil. Da mesma forma, uma
característica comum a todos os mamíferos é que amamentam seus filhotes. Então,
se um espécime é mamífero, irá amamentar seu filhote. Aristóteles observou um
padrão nessa forma de pensamento: um padrão de três proposições que consistem
em duas premissas e uma conclusão, exemplificado na forma "se As são Xs, e
B é um A, então B é um X" Essa forma de raciocínio - o
"silogismo" - foi o primeiro sistema formal de lógica concebido e
permaneceu como modelo básico para a lógica até o século XIX.
Ao
usar o raciocínio analítico na forma de lógica, Aristóteles compreendeu
que o poder da razão era algo que não se baseava nos sentidos, e que deve, portanto, ser uma característica
inata - parte daquilo que é ser humano. Aristóteles
percebeu que o poder inato da razão nos distingue de todas as outras criaturas
vivas, colocando-nos no topo da hierarquia.
A
herança aristotélica
A partir da classificação aristotélica, definiu-se, no correr dos séculos, o grande
campo da investigação filosófica, que só seria desfeito no século XIX de nossa
era, quando as ciências particulares foram se separando do tronco geral da
filosofia. Considerando-se a herança deixada pela classificação aristotélica,
podemos dizer que, até hoje, os campos de investigação da filosofia são três:
1. O do conhecimento do ser, isto é, da realidade fundamental e primordial de todas as coisas, ou da essência de toda realidade. Como, em
grego, ser se diz on e as coisas se diz ta onta, esse
campo é chamado de ontologia (na concepção de Aristóteles, a ontologia
era formada pelo conjunto da Filosofia Primeira e da teologia).
2. O do conhecimento das ações humanas ou dos valores e das finalidades da ação humana: das ações que têm em si
mesmas sua finalidade, a ética e a política, ou a vida moral (valores morais) e
a vida política (valores políticos); e das ações que têm sua finalidade num produto ou numa obra: as técnicas e as artes e seus valores (utilidade, beleza, etc.).
3. O do conhecimento da capacidade humana de conhecer, isto é, o conhecimento do próprio pensamento em exercício. Nesse campo
estão: a lógica, que oferece as leis gerais do pensamento; a teoria do
conhecimento que oferece os procedimentos pelos quais conhecemos; as ciências
propriamente ditas; e o conhecimento do
conhecimento científico, isto é, a teoria das ciências ou
epistemologia, que estuda e avalia os procedimentos empregados pelas diferentes
ciências para definir e conhecer seus objetos.
Referências:
CHAUI, Marilena. Filosofia: Novo Ensino Médio, Volume único. São Paulo: Ática, 2010, p. 40-48.
BUCKINGHAM, Will; BURNHAM, Douglas. O livro da Filosofia. São Paulo: Globo, 2011, p. 46-63.
basicamente, plágio.
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