sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Karl Marx e o materialismo histórico e dialético


Materialismo e o pensamento

O filosofo Karl Max é um materialista. Os filósofos desta concepção consideram que não existe uma verdade que se revela a todos nesse mundo. Tudo é uma questão de perspectiva e por isso não se pode entender o mundo como ele realmente é.
Mas em oposição aos materialistas é encontrada a concepção idealista, com a pretensão de criar uma imagem universal, até mesmo sobre os indivíduos, apesar das diferenças. O idealista é apegado a ideia, onde se coloca tudo em categorias compreensíveis, considerando que todos podem compartilhar da verdade ideal.
No materialismo o que passa pela cabeça de uma pessoa tem a ver com os sentimentos que ela tem, porque o corpo é importante e é o contato com o mundo que produz sentimentos. Então, nessa primeira ideia, começa a ficar claro que a produção material de uma sociedade afeta o pensamento, por estar em relação com o corpo, produzindo sentimentos que movem o indivíduo.
Um problema para a filosofia está ligado a essa ideia de circunstâncias. O pensamento sobre o futuro está preso as circunstâncias materiais do agora. Então, como criar uma filosofia revolucionária, sendo que o pensamento é influenciado pelo mundo material a cada instante?
Para entender melhor essa dificuldade da revolução do pensamento, dentro de uma sociedade, é importante analisar a infraestrutura e superestrutura que formam a sociedade. Essa análise é a ciência do materialismo histórico.
Sociedade = infraestrutura + superestrutura

Infraestrutura

Os sentimentos que o indivíduo tem não poderiam ser outros, porque assim as circunstâncias determinam. A sociedade também é organizada politicamente, moralmente, religiosamente e tudo mais, da maneira que atenda a necessidade material econômica, porque é o material que influencia o pensamento e consequentemente a ação.
A infraestrutura está relacionada a produção de bens materiais: as condições materiais de sua produção, as relações entre as pessoas na produção de bens, ao trabalho, ao processo de produção, etc. A infraestrutura é resumida como sendo os modos de produção.
Infraestrutura = modos de produção

Modos de produção

Os modos de produção econômica fazem parte da infraestrutura. Existem seis modos de produção: Primitivo, Asiático, Escravista, Feudal, Capitalista, Socialista.
Existem dois elementos fundamentais nos modos de produção: forças produtivas e relações de produção.
Modos de produção = forças produtivas + relações de produção.

Forças produtivas

 As forças produtivas são o conjunto de dois elementos que impulsionam o processo produtivo:

   1º Os meios de produção: ferramentas, matéria-prima e matéria-bruta. Por ferramentas entende-se tudo instrumento usado para transformar um objeto; a matéria-prima é um objeto que já foi modificado pelo trabalho, mas inda não é produto; matéria-bruta é um objeto que não foi trabalhado, por isso está distante de ser um produto.
   2º A força de trabalho: é a energia muscular e cerebral, usada sempre em conjunto com os meios de produção, para produzir um produto.
Forças produtivas = meios de produção + força de trabalho
O trabalho dá utilidade a algo, mas é importante lembrar que hoje em dia a utilidade tem outro sentido. Muitos produtos são desnecessários, cridos para o luxo.
Em resumo, o trabalho transforma o objeto em produto e a força de trabalho é a energia necessária para a transformação. Dependendo do meio de trabalho, se gastará mais ou menos energia para produzir um produto.
 No capitalismo não se remunera o trabalho e sim a força de trabalho. Isso significa que o salário é para recuperar a energia. O que se produz com o trabalho não afeta na remuneração, porque o importante é o tempo, a força física e mental usada para produzir. Isso sofreu algumas alterações nos últimos anos com as gratificações por resultado, mas isso não acontece em todo o sistema e nem representa uma mudança significativa para o sistema de exploração do trabalho.
Os meios de produção são fundamentais, porque eles determinam a quantidade de força necessária para a transformação de um objeto em produto.         

Relações de produção

As relações de produção são as relações estabelecidas entre os seres humanos para produzir. Em outras palavras, é o acordo necessária entre os seres humanos para realizar o processo produtivo.
Na nossa sociedade, a propriedade privada dos meios de produção dita a relação das duas classes fundamentais para a produção: proletários (não proprietários) e burgueses (proprietários). Essas são as classes mais importantes da sociedade capitalista: o burguês é o dono dos meios de produção e o proletário é o trabalhador, o detentor da força de trabalho. Os proprietários dos meios de produção se apropriam do produto do trabalho dos não proprietários, gerando desigualdade social e conflito entre as classes. 

Superestrutura

Todas as ideias de uma sociedade sobre o mundo e sobre as coisas é resultado da luta de classes. A superestrutura são essas ideias, hábitos e campos sociais que formam a sociedade, mas não fazem parte da infraestrutura, como: educação, leis, marketing, Estado, medicina, estilos de vida etc.
Várias formas de superestrutura são possíveis em uma mesma infraestrutura. A superestrutura nunca para de mudar, por isso é difícil defini-la. Por exemplo, a internet não existia a alguns anos atrás.

Materialismo histórico

O materialismo histórico é uma forma cientifica de analisar a história e as sociedades. Em nossa sociedade temos duas classes fundamentais: proletários e burgueses. Os proletários alienados, junto com seus herdeiros e lacaios dos burgueses, defendem as relações vigentes de produção. As duas classes são parte da infraestrutura. A política, a educação, o direito, a moral, a mídia, entre outros, fazem parte da superestrutura.
O materialismo histórico revela que a organização social está em dois níveis: infraestrutura econômica e superestrutura ideológica. Ao se entender a produção de bens (infraestrutura) de uma sociedade, é possível entender a ideologia que comanda a sociedade. Em outras palavras, quanto melhor se conhece a produção de bens materiais, melhor se conhece o resto da sociedade (superestrutura).

Conflito entre classes

As pessoas consideradas de esquerda lutam sempre contra o interesse da classe dominante, que é a burguesia. Os verdadeiros interessados na manutenção das ideias de direita são os donos da produção, os conservadores. Não é o proprietário do carro que é interessado nas propostas conservadoras e sim o dono da fábrica de veículos.  Para Marx, o importante no capitalismo é a propriedade dos meios de produção e não o produto. A maneira como se procede as forças de produção de bens materiais define a relações de produção.
Os burgueses defendem a propriedade privada dos meios de produção e o proletário busca novas formas de relações de produção. Devido a esse conflito de interesses, existe uma luta entre as duas classes. Há um abismo que separa as classes, mas poucos tem consciência de classe, sem essa consciência não existe revolução. O desejo por lucro faz com que os burgueses, donos dos meios de produção, se aproveitem do trabalhador, criando uma situação de exploração que não muda.

Materialismo dialético

O materialismo dialético diz respeito a essa luta de classes: proletária e burguesa. A desarmonia entre as forças de produção e as relações de produção produz a história da nossa sociedade capitalista, mas essa história é resultado da dialética das classes envolvidas nos modos de produção.
O conflito fica evidente quando os proprietários dos meios de produção não conseguem agradar o trabalhador, que exige uma mudança nas relações de produção, mas esta nunca acontece. Por exemplo, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que luta pela distribuição de terras, que são parte dos meios necessários para a produção, sendo a terra parte da infraestrutura.
É normal que alguns grupos se unam contra os trabalhadores para conservar a propriedade privada dos meios de produção, impedindo uma transformação. A classe conservadora luta contra a classe que deseja mudanças na relação de produção, porque essa mudança é uma revolução considerada subversiva pelos conservadores.

Liberalismo

O filósofo John Locke, do século XVII, era defensor do liberalismo. Ele via o trabalho como fundamento da propriedade privada.
Podemos dizer que o trabalho de seu corpo e a obra produzida por suas mãos são propriedade sua. Sempre que ele tira um objeto do estado em que a natureza o colocou e deixou, mistura nisso o seu trabalho e a isso acrescenta algo que lhe pertence, por isso o tornando sua propriedade. Ao remover este objeto do estado comum em que a natureza o colocou, através do seu trabalho adiciona-lhe algo que excluiu o direito comum dos outros homens. Sendo este trabalho uma propriedade inquestionável do trabalhador, nenhum homem, exceto ele, pode ter o direito ao que o trabalho lhe acrescentou (LOCKE, Segundo tratado Sobre O Governo, capitulo V, p.42)

Para Locke, é garantindo o direito à propriedade de algo quando se trabalha nela e a transforma. O direito à propriedade é a recompensa pelo trabalho transformador. Mas no capitalismo o trabalho é apenas mais uma mercadoria, que é vendida e usada para a produção. O que é produzido pelo trabalho não pertence ao trabalhador, pertence aos donos dos meios de produção que comprou o trabalho.
Em contrapartida, o filósofo Adam Smith, do século XVIII, dizia que o trabalho deveria ser a medida do valor de troca das mercadorias. Mas no capitalismo o valor de troca da mercadoria não tem a ver com o valor pago pelo trabalho. A mercadoria ganha um valor muito superior em comparação ao valor pago pelo trabalho que a produziu. Por isso, é importante entender o conceito de trabalho para entender as relações de produção.

Mais-valia

A mais-valia é o lucro retido pelo capitalista, resultante da diferença entre o que ele paga pela mão de obra e o valor que ele cobra pela mercadoria produzida por essa força de trabalho (o trabalho vale menos que a mercadoria). Em outras palavras, o trabalhador recebe um valor muito inferior ao valor produzido e é assim que o burguês consegue o lucro. Essa exploração é chamada de mais-valia.  
Existe uma abundância de trabalhadores na sociedade. E quanto mais cresce a quantidade de trabalhadores mais a mão de obra se desvaloriza. A força de trabalho perde seu valor quanto mais fácil for encontrá-la. E sempre haverá aqueles trabalhadores que se submetem a trabalhar mais por um salário um pouco maior perdendo mais de si, ou aceita trabalhar por menos para ter um emprego, desvalorizando os trabalhadores como um todo. Um jeito de ganhar mais é ter uma boa formação, porque quanto melhor for a formação do trabalhador maior será sua raridade no mercado, proporcionando um salário melhor.
Por causa do burguês ser o dono dos meios de produção, ele pode controlar como, onde, quando, por que e com que frequência o trabalhador poderá vender sua força de trabalho. Durante a produção, o trabalhador perde a consciência da produção como um todo, por isso ele é facilmente explorado. A sociedade capitalista se desenvolve com mais facilidade quanto menor for a consciência do trabalhador.

Alienação

Alienação é o processo em que o ser humano se afasta de sua real natureza, torna-se estranho a si mesmo, pois os objetos que produz passam a adquirir existência independente do seu poder e antagônica aos seus interesses.

Alienação devido a produção

No capitalismo a alienação começa no processo de produção onde o indivíduo tem o trabalho segmentado para não se ter consciência da totalidade do processo de produção. Existe uma cooperação complexa onde os trabalhadores fazem funções diferentes para gerar um produto, perdendo toda a noção da totalidade do processo produtivo. Na cooperação complexa, existe os trabalhadores que vão trabalhar com a matéria-bruta e trabalhadores que vão dar continuidade ao trabalho dos primeiros, até a produção final que é o produto pronto para o consumo, chamado de mercadoria. Esse trabalho coletivo é um estágio do sistema capitalista, onde o trabalhador se torna alienado, perdendo a noção dos custos e quantidade de produção de bens. Quanto mais for elaborado o sistema de produção maior é a alienação do trabalhador.

Existe três tipos de proprietários dos meios de produção:
  1º O proprietário é um trabalhador direto, por utilizar seus próprios meios de produção para produzir, sendo isso mais normal em sistemas rudimentares de produção, como no artesanato.
   2º O proprietário é um trabalhador indireto, por administrar o processo produtivo.
  3º O proprietário é um não trabalhador, porque ele está distante do processo produtivo. E quanto mais um sistema capitalista se desenvolve, mais distante o proprietário dos meios de produção fica do processo produtivo.
Em uma sociedade capitalista, podemos dividir os envolvidos na produção em duas categorias: proprietários e não proprietários. Essa divisão gera três outras categorias na sua relação capitalistas: explorados, não explorados e cooperadores (capangas da burguesia).
Existem três sistemas de exploração:
    1º   O escravismo: onde o dono dos meios de produção é dono da produção e do trabalhador.
    2º   O serviçal: onde o dono dos meios de produção é dono da produção, mas não é dono do trabalhador. O servo tem liberdade de ir e vir e ganha um pouco de recursos, para sobreviver e sustentar sua família se necessário.
    3º   O assalariado: onde o dono dos meios de produção é dono da produção, mas é o trabalhador que vende sua força de trabalho. O assalariado tem maior liberdade do que o servo, por dois motivos: ele tem o direito de receber os recursos para obter os próprios bens em troca da força de trabalho; também pode não vender a força de trabalho, caso não tenha interesse no que o burguês lhe oferece.
No capitalismo, o trabalhador é explorado porque o burguês dita a venda da força de trabalho e o valor do trabalho. O trabalhador alienado não percebe a desigualdade do sistema. O trabalhador vende seu trabalho como uma mercadoria e quanto mais mercadorias esse trabalho produz menos ele vale no mercado.
A mercadoria ganha independência em relação ao trabalhador. Quanto mais esse trabalhador gasta de si no trabalho, mais o trabalho se torna estranho ao trabalhador, que perde mais de si mesmo, tornando-se mais pobre com o tempo. Em outras palavras, o trabalhador se torna menos pessoa e menos valorizado na medida em que produz mais.
O sistema exige que o trabalhador fique cada vez mais produtivo, eficiente e alienado, resultando na desvalorização da sua força de trabalho. Quanto mais se produz menos se é. Essa é a alienação do trabalhador frente ao objeto de trabalho que não lhe pertence mais. Para Marx, a alienação significa essa autonomia do trabalho em relação ao trabalhador. Quando se vende o trabalho ele não pertence mais ao trabalhador, ele fica fora do trabalhador.

Ideologia

Ideologia é a totalidade das formas de consciência social, o que abrange o sistema de ideias que legitima o poder econômico da classe dominante (burguesia).
A ideologia é manifestada na superestrutura, que é o fluir ou consequência da infraestrutura. Em outras palavras, a superestrutura é uma articulação de indivíduos que pensam sobre o mundo, tomando como referência a infraestrutura da sociedade para se estabelecer parâmetros. A ideologia é tudo que faz a sociedade ser e continuar a ser o que é, por permitir a manutenção da dominação de classe. Como a ideologia sustenta o sistema, os maiores interessados e beneficiados pela ideologia é a burguesia (classe dominante).
Toda a ideologia é uma ideia sobre como o mundo deveria ser e como deveria ser pensado. Não se trata de um mundo verdadeiro ou falso. A ideologia não é uma análise da realidade, ela é uma suposição de como deveria ser a vida humana. Por isso, não se pode fazer ideologia a partir da natureza, porque a natureza nunca é diferente, ela é o que é, mas o ser humano sempre pode ser diferente.
A ideologia é mais sofisticada quando deixa de ser apenas uma ideia e passa a ser um conjunto de hábitos e condutas a se ter. De repente, aquilo que o ser humano pensa e procura alcançar na sociedade é resultado de uma dominação de classe por meio da ideologia. Porque a ideologia do proletário é a ideologia burguesa. Não existe uma ideologia do proletário e sim uma ideologia burguesa que toma conta das ideias do proletário, que passa a querer se tornar burguês. O proletário vive em um mundo criado pelos donos dos meios de produção. Sempre que o proletário quer se sair bem no sistema, ele faz o que é do interesse da classe burguesa. Não existe rival para a ideologia burguesa, porque todos têm uma noção parecida de como o mundo deveria ser. Isso é globalização: uma única ideia compartilhada. Geralmente, uma ideia começa a parecer correta quando ela vem de todos, parece não existir pessoas dominadas. Essa é a sutileza da ideologia – dominar sem aparentar, eliminando as chances de qualquer revolução.
A burguesia governa principalmente com a ideologia, mas quando necessário, ela usa da força física da polícia e do exército, que são patrocinados por ela, para manter a ordem burguesa. A ideologia somente desaparece quando o sonho se tornar realidade, mas pode haver uma crise, o sonho pode não ser bom. Quando o sonho não é bom, o que restar é voltar a sonhar, criando uma nova ideologia.  
Os desejos humanos foram cobertos pelas ilusões da classe dominante. Desejar é natural, mas se deseja segundo tendências capitalistas, como gostar do que se pode ser descartado, da quantidade ao invés da qualidade, da raridade e do prático.
Mas não é a classe burguesa quem cria e cuida da ideologia dominadora, o próprio sistema econômico proporciona seu surgimento. A ideologia se forma devido as características dos modos de produção, mantendo até mesmo o burguês tão alienado quanto o proletário, mas essa primeira classe acaba sendo beneficiada. A burguesia também é exposta aos mesmos processos de dominação ideológica que o proletário: a mídia, a escola, a igreja, entre outros. Por exemplo, na novela o rico sofre e o pobre é feliz, recebe até café da manhã na cama, servido pela sua esposa que é interpretada por uma atriz linda.
                                                                                                                                          
A ideologia da mídia

A mídia faz parte da superestrutura, patrocinada pela burguesia e promovendo os interesses da classe burguesa. Diverte a classe operária, mantendo a alienação. É feita por burgueses para proletários. Por exemplo, os jornais gastam muitas páginas falando da queda de um avião como o da Air France em 2009, porque morreram “pessoas que importam”, os proletários principalmente da classe média. Em São Paulo, existe várias tragédias acontecendo na periferia a todo momento, mas as pessoas da periferia não merecem a atenção da mídia, porque a vida dessas pessoas tem um outro valor social.
Cria-se heróis e vilões na mídia, que podem variar entre pessoas, partidos, instituições, produtos, etc., que servem como bode expiatório para desviar a atenção dos processos de dominação e exploração. A condenação dos vilões purifica e torna os trabalhadores mais dóceis. Por exemplo, a mídia faz todos acreditarem que tudo de ruim está no setor público, oferecendo ótimos argumentos para os defensores da privatização.
Graças a mídia, o proletário passa a ter como preocupação os valores que favorecem a classe dominante, impedindo uma revolta em massa. A ideologia é a maneira mais limpa, fácil e segura de dominação. Antigamente era comum a dominação pela força física, mas isso era custoso e agora é melhor o uso da ideologia.
O erro de Karl Marx, foi achar que a mídia iria contribuir para uma revolução, quando o número de proletários fosse muito mais numeroso do que de burgueses. Um pensador marxista de hoje não analisa a mídia pela mídia, mas a partir da luta de classe. A mídia dissimula o que realmente importa. Por exemplo, o programa A Grande Família, onde é mostrado uma família de classe média, uma classe resistente a mudanças e apegada aos seus pequenos ganhos. O personagem principal, Lineu, é um homem honesto, mas é porta-voz de uma moral conservadora, reacionária, ortodoxa e garantidora da manutenção do sistema.
É na superestrutura que se esconde a realidade da dominação. A mídia é conservadora como tudo mais na superestrutura.

A ideologia nos campos sociais

Para se conhecer é necessário saber a classe que se pertence. Para ficar mais fácil ainda de se conhecer, é importante estudar o campo social em que se vive. Existe o campo jurídico, acadêmico, jornalístico, político, religioso, etc. A ideologia de cada campo é flexível. Por exemplo, a ideologia do campo acadêmico poderia mudar constantemente, mas, ainda sim, mudaria para formas que continuam a favorecer os interesses da classe dominante.
A sociedade adestra os seres humanos com a ideologia. Certos comportamentos tornam-se aceitáveis e outros não, em um determinado campo social. Quando se senti vergonha por algum comportamento, é porque foi transgredido o protocolo ideal de uma esfera social, e o corpo reage em contato com esse mundo que o condena, produzindo a vergonha no indivíduo que não se enquadra. A ideologia determina o mundo em que se vive. Por isso, a ideologia controla os sentimentos e se ela controla os sentimentos, ela controla os indivíduos.
Apesar das particularidades dos campos sociais, todas as ideologias existentes, têm como objetivo legitimar os interesses da classe dominadora. Em outras palavras, todas as ideologias dos campos sociais servem a uma maior proposta ideológica, aquela que favorece a classe dominadora. A ideologia burguesa é mascarada por diversas propostas nos vários campos, mas é sempre ela a referência para qualquer outra ideologia.
A homologia (união das partes) é o último estágio para se entender a legitimação de um porta-voz dos interesses da classe dominante. Essa homologia é a união dos campos sociais para legitimar uma nova maneira de ser da ideologia. Um campo social aprova o outro de alguma maneira ou o ajuda. Uma nova maneira de ser da ideologia, é uma nova maneira de esconder os interessas da classe dominante, com uma capa ideológica nova. 


Para entender o materialismo:

·         Burguês é o dono dos meios de produção.
·         Proletário é o trabalhador, o detentor da força de trabalho.

Considerações:
1º Existe uma desigualdade (o burguês é o dono da bola).
2º O burguês decide o quanto vai pagar. O conceito mais-valia refere-se ao preço da mercadoria e a exploração do trabalho. A mais-valia é o lucro retido pelo capitalista, resultante da diferença entre o que ele paga pela mão de obra e o valor que ele cobra pela mercadoria produzida por essa força de trabalho (o trabalho vale menos que a mercadoria).
3º A luta de classe ou dominação de classe (porque o burguês ganha sempre).
4º No capitalismo o capital se concentra (a classe burguesa diminui e os poucos que sobram são os maiores detentores dos meios de produção). O capitalismo patrocina uma proletarização progressiva das relações de produção.
5º Marx antecipa uma revolução que aconteceu onde ele não previu, na Rússia que era czarista (Praticamente um absolutismo que foi substituído por uma monarquia constitucional, incluindo um parlamento) e não passou pela fase capitalista.
6º A revolução não aconteceu do modo esperado por causa da dominação ideológica ou simbólica que produz alienação. A classe dominante produz ideologias que alienam a classe trabalhadora, permitindo uma dominação pacífica. As duas maiores ferramentas de alienação é a religião e a mídia. Por exemplo: o padre Marcelo é um instrumento que potencializa as duas.
7º A sociedade se explica pelas relações econômicas. Existe a infraestrutura de uma sociedade está relacionada direta ou indiretamente com a produção de bens materiais, bens tangíveis. A superestrutura de uma sociedade é tudo que está ao alcance dos sentidos, é o resto da produção que não faz parte da infraestrutura:  sistema de ideias e sentimentos, instituições jurídicas e políticas, e manifestações culturais que constituem a consciência social. Nenhuma produção superestrutural é explica sem uma análise da infraestrutura da sociedade. Por exemplo: não posso entender o sucesso do padre Marcelo sem entender como a sociedade que ele vive produz bens materiais.

Crítica ao capitalismo

“O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza” Karl Marx.
Quanto mais se trabalha, mais pobre se fica. É a escassez da força de trabalho e da produção que valoriza o trabalhador. Onde existe uma grande produção e sobra da força de trabalho, não se valoriza o trabalhador.
Toda a produção ganha independência do trabalhador. A produção passa a ter o valor estipulado pelo burguês, que é superior ao valor pago pela força de trabalho. Caso o trabalhador deseje consumir a mercadoria que ele produziu, deverá ser pago um valor superior ao pagamento que se recebeu para produzir a mercadoria.
Quanto mais o trabalhador produz em quantidade e volume, mais desvalorizado se torna o trabalhador, porque ele se torna uma mercadoria vendida a um preço mais baixo tanto quanto mais produz mercadorias.

Referências biográficas:

BARROS, Clóvis de; DAINEZI, Gustavo Fernandes. Devaneios sobre a atualidade do capital. Porto Alegre: CDG, 1ª edição, 2014.  

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