sábado, 25 de janeiro de 2025

O poder das relações

O bem e o mal são definidos pelas relações em contextos únicos. A relação que leva ao mal é diferente da que leva ao bem. Mas o indivíduo controla todas as relações de coisas que constroem os eventos (isso inclui as ações do indivíduo)? Nosso controle sobre os eventos é quase nada; temos algum controle apenas sobre nós mesmos. A ideia de bem e mal segue princípios que foram criados para gerir as relações, estabelecendo as perspectivas do que é proveitoso e do que é prejudicial numa relação entre indivíduos. Algumas relações podem ser penosas e, na prática, agir mal pode ser menos penoso no momento e/ou proveitoso no futuro, mas nenhuma relação é duradoura quando o mal ou o prejuízo é o seu único fundamento.

Ninguém é triste por ser triste ou alegre por ser alegre, tudo tem uma causa. Alegria é curtir o momento em acordo com o momento (nada mais adequado do que usar a palavra curtir em tempos de rede social). Existe alegria nas redes? Existe alegria em ser saudado por um estranho com um sorriso no rosto? Alegrar-se é necessário para o “estado de espírito” que denomino felicidade (não é uma contemplação aristotélica a que me refiro). Mesmo no alegrar-se com um sorriso falso e curtidas convenientes, não existe caminhos bons ou maus em si, o que importa é a habilidade de tirar proveito das situações. Algumas circunstâncias são mais proveitosas para se alegrar do que outras, dependendo das condições e habilidades do indivíduo. A “melhor escolha” está ligada a duas coisas: a capacidade do indivíduo e ao contexto que se vive. Muito pouco se pode fazer sobre o contexto em que se vive; é possível ter mais controle sobre a capacidade que temos.

O modelo ideal é sempre fazer o que um poderoso faz. Essa idolatria pelo poder de fazer algo que poucos conseguem e/ou que exige muito trabalho advém da insatisfação recorrente – é um estado natural e necessário à existência, por isso a satisfação é sempre passageira. Nietzsche e Schopenhauer já transcorreram sobre todas essas questões que foram revisadas até aqui. O que eles deixaram de tratar é o poder como sendo algo dependente das relações. A partir das relações se constroem vários tipos de poder. A capacidade de um indivíduo em tirar proveito de uma circunstância depende das relações que também são favoráveis a alegria, logo, é possível criar algumas condições – estabelecendo relações ou criando habilidades (um conjunto de competências, como se fala na área da educação), porque relação é habilidade e vice-versa. O “poder fazer” o que nem todos podem não é garantia da alegria, mas vivenciar algo tirando o máximo proveito que se pode é garantia de alegrar-se mesmo com as “coisas pequenas da vida” (circunstâncias que não exigem muito recurso e/ou trabalho). Parece óbvio que, para a grande maioria das pessoas, o “poder tirar” deveria ser mais benquisto que o “poder fazer”. Porém, devido a nossa natureza insatisfeita e a nossa cultura consumista, o desejo por mais segue um caminho materialista, no sentido empírico de constatação da felicidade como sendo fruto de realizações, ao invés da felicidade como um “estado de espírito”. Claro que a felicidade, como “estado de espírito”, pode ser observada no indivíduo, porém estou me referindo a algo mais complexo do que uma mera realização visível. Estou tratando de um estado do corpo como um todo que consegue tirar proveito de uma situação. O “estado de espírito” é um estado do corpo e a mente é constituída da relação dum todo do organismo de um corpo (que tem a tendência a insatisfações).

Ser uma “boa pessoa” ou ser “feliz” por muito tempo não é natural, mas não é a natureza que vai nos impedir de tentar superar limites, pois queremos sempre mais.

https://medium.com/@junior.josefranco/o-poder-das-rela%C3%A7%C3%B5es-94d9923cbcf8

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