domingo, 26 de janeiro de 2025

A relação da vontade e do agir

Tudo pode ser explicado pela relação das coisas, inclusive a vontade. O movimento só existe na relação; o que move, mesmo os indivíduos, são as relações. Refletindo de maneira mais específica sobre a vontade e o agir humano, é necessário iniciar a reflexão considerando a tristeza como energia baixa (corresponde a perecer) e a alegria como energia alta (corresponde a vigor), admitindo que essas energias são definidas pelas relações que constituem o todo do organismo (o corpo humano). Sempre existe vontade no ser, pois sempre existe relações. A vontade move, conduz ao agir cabível ao indivíduo, mas é a forma como transcorre as relações do corpo com o mundo que vão definir a vontade e o caminho a ser seguido (de acordo com a capacidade do indivíduo). Exemplificando, quando uma pessoa se relaciona negativamente com uma circunstância é natural que ela queira (vontade) agir mal e/ou fique triste se essa energia (produzida no encontro negativo entre o corpo e o mundo) comprometer a energia da alegria no corpo. E pensando no contrário, é ansiado (vontade) agir bem quando se está alegre ou com a energia alta que supera qualquer tristeza presente no corpo. Em outras palavras, é a vontade que promove o agir, mas a vontade é determinada pela relação que é estabelecida entre o corpo e o mundo (na condição anterior ao agir) que acaba por definir tanto à vontade quanto o agir ao arquitetar a energia determinante do caminho a ser “escolhido” (entre o bem e o mal) que a ação vai materializar (de acordo com a habilidade do indivíduo). Portanto, é compreensível que a energia e o movimento só existam por causa da relação das coisas e que há uma busca natural pelo bem e/ou por alegria nas relações humanas.  

https://medium.com/@junior.josefranco/a-rela%C3%A7%C3%A3o-da-vontade-e-do-agir-8c3f2b125558

sábado, 25 de janeiro de 2025

O poder das relações

O bem e o mal são definidos pelas relações em contextos únicos. A relação que leva ao mal é diferente da que leva ao bem. Mas o indivíduo controla todas as relações de coisas que constroem os eventos (isso inclui as ações do indivíduo)? Nosso controle sobre os eventos é quase nada; temos algum controle apenas sobre nós mesmos. A ideia de bem e mal segue princípios que foram criados para gerir as relações, estabelecendo as perspectivas do que é proveitoso e do que é prejudicial numa relação entre indivíduos. Algumas relações podem ser penosas e, na prática, agir mal pode ser menos penoso no momento e/ou proveitoso no futuro, mas nenhuma relação é duradoura quando o mal ou o prejuízo é o seu único fundamento.

Ninguém é triste por ser triste ou alegre por ser alegre, tudo tem uma causa. Alegria é curtir o momento em acordo com o momento (nada mais adequado do que usar a palavra curtir em tempos de rede social). Existe alegria nas redes? Existe alegria em ser saudado por um estranho com um sorriso no rosto? Alegrar-se é necessário para o “estado de espírito” que denomino felicidade (não é uma contemplação aristotélica a que me refiro). Mesmo no alegrar-se com um sorriso falso e curtidas convenientes, não existe caminhos bons ou maus em si, o que importa é a habilidade de tirar proveito das situações. Algumas circunstâncias são mais proveitosas para se alegrar do que outras, dependendo das condições e habilidades do indivíduo. A “melhor escolha” está ligada a duas coisas: a capacidade do indivíduo e ao contexto que se vive. Muito pouco se pode fazer sobre o contexto em que se vive; é possível ter mais controle sobre a capacidade que temos.

O modelo ideal é sempre fazer o que um poderoso faz. Essa idolatria pelo poder de fazer algo que poucos conseguem e/ou que exige muito trabalho advém da insatisfação recorrente – é um estado natural e necessário à existência, por isso a satisfação é sempre passageira. Nietzsche e Schopenhauer já transcorreram sobre todas essas questões que foram revisadas até aqui. O que eles deixaram de tratar é o poder como sendo algo dependente das relações. A partir das relações se constroem vários tipos de poder. A capacidade de um indivíduo em tirar proveito de uma circunstância depende das relações que também são favoráveis a alegria, logo, é possível criar algumas condições – estabelecendo relações ou criando habilidades (um conjunto de competências, como se fala na área da educação), porque relação é habilidade e vice-versa. O “poder fazer” o que nem todos podem não é garantia da alegria, mas vivenciar algo tirando o máximo proveito que se pode é garantia de alegrar-se mesmo com as “coisas pequenas da vida” (circunstâncias que não exigem muito recurso e/ou trabalho). Parece óbvio que, para a grande maioria das pessoas, o “poder tirar” deveria ser mais benquisto que o “poder fazer”. Porém, devido a nossa natureza insatisfeita e a nossa cultura consumista, o desejo por mais segue um caminho materialista, no sentido empírico de constatação da felicidade como sendo fruto de realizações, ao invés da felicidade como um “estado de espírito”. Claro que a felicidade, como “estado de espírito”, pode ser observada no indivíduo, porém estou me referindo a algo mais complexo do que uma mera realização visível. Estou tratando de um estado do corpo como um todo que consegue tirar proveito de uma situação. O “estado de espírito” é um estado do corpo e a mente é constituída da relação dum todo do organismo de um corpo (que tem a tendência a insatisfações).

Ser uma “boa pessoa” ou ser “feliz” por muito tempo não é natural, mas não é a natureza que vai nos impedir de tentar superar limites, pois queremos sempre mais.

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

A Legitimação do Capitalismo e a Falência do Humano


capitalismo só permanece devido ao Estado Moderno que sustenta e legítima tal sistema econômico. A falência do capitalismo tem se revelado no poder econômico concentrado na mão de pessoas com uma ambição desmedida e que são capazes de fazer o que for preciso para garantir a progressão do seu poder econômico, mesmo que para isso tenha que adotar comportamentos fascistas e ignorar o estado de bem-estar social. Segundo Hobbes, o estado de bem-estar social é essencial para a garantia da paz e manter a legitimidade de um governo e a existência do Estado. Logo, os conflitos de vertente revolucionária, em qualquer sistema econômico, são motivados pela desigualdade de bem-estar social e não pela desigualdade material. Do mesmo modo, os discursos extremistas parecem ter razoabilidade quando o estado de bem-estar social é comprometido. Pelo que se percebe, o Estado Moderno, que sustenta e legítima o capitalismo, sofre com políticas extremistas que o próprio sistema econômico força a existir. Essas perspectivas extremistas comprometem o Estado e, consequentemente, o capitalismo, pois todo extremo político leva à aniquilação das perspectivas humanistas. Enfim, o homem passa a ser o lobo do homem.

https://medium.com/@junior.josefranco/a-legitima%C3%A7%C3%A3o-do-capitalismo-e-a-fal%C3%AAncia-do-humano-ce8b30a9e865

quarta-feira, 22 de janeiro de 2025

A Arte como Representação dos Medos

A ideia de que a arte imita a vida é amplamente aceita. Em períodos marcados pela racionalidade, como os tempos apolíneos, busca-se dar um significado profundo às obras, representando o mundo de maneira estruturada e simbólica. Nesse contexto, a política se insere no repertório artístico, transformando a arte em uma ferramenta de reflexão e crítica sobre valores sociais e culturais.

Fernanda Torres, em Ainda Estou Aqui, por exemplo, transcende o papel de uma atriz em um filme. Sua consagração está ligada à representação de valores fundamentais da sociedade, revelados em sua atuação, assim como os símbolos religiosos, como o crucifixo, carregam significados profundos. No cristianismo, a cruz não é apenas um objeto; ela representa perdão, redenção e medos existenciais.

De maneira semelhante, Fernanda Torres passou a ser vista como uma representação dos medos e aspirações sociais contemporâneas. Embora sua atuação não simbolize diretamente os valores democráticos, ela evoca preocupações com o cumprimento dos princípios fundamentais do contrato social. Quando esses princípios são violados, geram angústias e temores em todos os indivíduos envolvidos. Isso lembra os medos cristãos relacionados ao pecado e às suas consequências — onde ninguém deseja carregar o peso pelos erros dos outros ou pelos próprios.

Assim, a arte, seja através de ícones religiosos ou figuras contemporâneas, continua a refletir nossas esperanças, medos e a busca por significado.

https://medium.com/@junior.josefranco/a-arte-como-representação-dos-medos-21ace209b0c7