Filósofo nascido na ilha grega
de Samos em 341 a.C. Com longa trajetória em Atenas. Foi aluno da Academia,
após a morte de Platão. É tradicionalmente apresentado como porta-voz maior do
pensamento materialista. Hostil ao platonismo. Sua tese central é tentadora: a busca do prazer é condição e definição da própria felicidade.
Prazer e construção da ataraxia
O bem-estar, a tranquilidade do corpo e da
alma, em grego ataraxia, deve ser vivido sempre que possível no instante
presente. Mas para isso, é preciso algum investimento.
· Ataraxia: ausência de inquietude, tranquilidade
de ânimo, paz e imperturbabilidade de espírito
Se num momento você tem a sensação de que
começou a chover na sua horta, saiba que, isto tem necessariamente a ver com a
maneira como você viveu em momentos já vividos. Por outro lado, se o mar não
estiver para peixe, não pense que as opções de outrora não tiveram nada a ver
com isso.
Prazer e educação para a
felicidade
Toda sabedoria deve se adequar à vida, à ética, e não o
contrário. Afinal, pensamos para viver melhor, diz Epicuro. E não vivemos para
pensar melhor.
Pensar, filosofar, é importante. Mas exclusivamente como meio para a vida. Para uma vida melhor. Porque permite viver melhor. E a vida feliz é o fim. O bem soberano. Aquilo que devemos e podemos alcançar. E
que não pode ser meio para nada.
Prazer e morte
Na hora de cogitar sobre como gastar o tempo que resta, damo-nos
conta de nossa pouca autonomia. Você dirá que deveria ser
diferente. Mas não é. Como somos sociais — antes mesmo que você comece a
esboçar alguma ideia sobre como viver — sua reflexão é atropelada por um
turbilhão de propostas. Manifestações interessadas na sua adesão.
Apesar de todas essas sugestões para melhor distrair a existência, são muitas as ocasiões que nos relembram de nossa condição.
Finita. Temporária. Daí toda nossa aflição. Nosso medo da morte. Que nos leva a
invocar os deuses e outras entidades sobrenaturais. A atribuir-lhes a responsabilidade
pelo nosso maior temor.
Sendo os deuses perfeitos e imortais, é contraditório que se preocupem com fluxos e impermanências. Mais
ainda, que façam o mal para alguém. Aquele que é perfeitamente bom não causa
dor ou tristeza. Nem como punição.
Temer a morte é temer algo que não existe
para o homem. Impossibilitado de senti-la e conhecê-la. Experiência que escapa
à condição humana.
Na física epicurista, herdeira
de Leucipo e Demócrito, a realidade é constituída por átomos e vazio. E isto é
tudo. Esse vazio permite aos átomos movimentarem-se. Todas as manifestações no mundo são redutíveis a esse movimento dos átomos. É a
partir desta física que podemos entender uma ética de Epicuro.
O real — todo ele atômico — só existe para nós a partir de informações que nos
proporcionam os cinco sentidos. O mundo é o que vejo, o que ouço, o que cheiro,
o que sinto etc. É a experiência que define o mundo para mim. E se tudo é átomo
em movimento, a percepção que tenho do mundo também não passa disso.
São partículas atômicas, matéria fina, que se
despregam do corpo observado e se chocam com os sentidos do observador. Assim,
se neste instante estou vendo o computador é porque meus olhos estão sendo
bombardeados de fragmentos desse computador.
Se há deuses, também são átomos
em movimento. Estamos aqui bem longe das concepções de alma — eterna e
imaterial — e de verdades absolutas.
Se todo o conhecimento e sensação provêm dos sentidos
então o mundo em que vivemos é o mundo que sentimos.
O que já vinha deixando de ser
durante a vida, deixa de ser de uma vez.
Uma vez mortos — ainda
que a matéria que nos constituía tenha nos traído na constituição de outros
corpos — não podemos usar nossos sentidos. Não estamos mais vivos para sentir o
mundo. Desaparece toda sensação.
Pois bem. Se todo prazer e dor provêm da
sensação, o fim da vida não pode ser nem agradável, nem desagradável. Por isso,
é tolice temer a morte. Preocupar-se com a morte, portanto, é não
viver a vida. É renunciar a felicidade em ato.
“Portanto, o mal que nos faz ter
arrepios, ou seja, a morte, é nada para nós, a partir do momento que, quando vivemos, a morte não existe. E quando, ao contrário, existe a morte, nós não existimos mais. A morte, portanto, não se refere a nós, nem quando estamos vivos, nem quando estamos mortos, porque
para os vivos ela não existe, e os mortos, ao contrário, não existem mais. Os outros, por sua vez, fogem por vezes da morte
como do pior dos males; outras vezes a procuram como alívio das desgraças da vida. O sábio, ao invés, nem rejeita a vida, nem teme o não viver mais; com efeito, a vida não lhe é molesta, e ele também não crê que a morte seja um mal” (EPICURO. Carta a Meneceu).
Prazer e tipos de desejo
O filósofo sugere que
trabalhemos nossos desejos. Porque são eles que estão na origem do nosso sofrimento.
“É por isso que nós dizemos
que o prazer é o princípio e fim último da vida feliz. Nós sabemos que ele é o
nosso bem primeiro e congênito; dele partimos em qualquer ação de escolha e de
rejeição, e a ele nos reportamos ao julgarmos todo bem como base nas afeições assumidas como norma” (EPICURO. Carta a Meneceu).
Para Epicuro, existem três tipos de desejo. Desejos
naturais e necessários. Desejos naturais e não necessários. Desejos não
naturais e não necessários. A felicidade possível tem a ver com o tipo de
desejo que você se dispuser a satisfazer.
O desejo será natural quando for comum
aos animais. Quando
eu desejo, sinto uma inclinação do corpo acompanhada de
algo que passa pela minha cabeça.
O desejo será necessário quando — caso
não satisfeito — nos leve à morte. Assim, de acordo com Epicuro, beber, comer e
dormir são os desejos que atendem às condições de naturalidade e de
necessidade.
A satisfação desses desejos deve ser realizada da forma mais singela possível.
Desejamos sexo. Mas, segundo Epicuro, não morremos na sua abstinência.
A teoria hedonista de Epicuro se diferencia das concepções moderna e pós-moderna de hedonismo. De acordo com a primeira,
a moderação é fundamental para uma vida sadia. Os excessos face aos desejos naturais e necessários de comer, beber e dormir, resultam de um descontrole do corpo e do espírito frente às paixões. Denunciam uma potencial tristeza.
Quanto aos desejos não naturais e não
necessários, satisfazê-los, nem pensar. São exclusivos do homem e, se não
satisfeitos, não levam a morte. Isto porque, tudo aquilo que não é natural não
deve ser considerado como essencial. Não faz parte do projeto original da natureza e por isso mesmo não nos faz feliz.
Nada que não seja essencial
para viver serve para a felicidade.
Referência Bibliográfica:
DE BARROS FILHO, Clóvis. A vida que vale a pena ser vivida. Editora
Vozes, 2010.
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