domingo, 16 de fevereiro de 2014

O que é a Filosofia?


Podemos dizer que a filosofia surge quando os seres humanos começam a exigir provas e justificativas racionais que validem ou invalidem as crenças cotidianas.

A atitude crítica

·  crítica
Palavra proveniente do grego; possui três sentidos principais: 1) "capacidade para julgar, discernir e decidir corretamente"; 2) "exame racional de todas as coisas sem preconceito e sem prejulgamento"; 3) "atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma ideia, um valor, um costume, um comportamento, uma obra artística ou científica".
A filosofia começa dizendo não às crenças e aos preconceitos do dia-a-dia para que possam ser avaliados racional e criticamente. Como dizia Sócrates, começamos a buscar o conhecimento quando somos capazes de dizer: "Só sei que nada sei".
Para Platão, o discípulo de Sócrates, a filosofia começa com a admiração ou, como escreve seu discípulo Aristóteles, a filosofia começa com o espanto. Nós nos espantamos quando, por meio de nosso pensamento, tomamos distância do nosso mundo costumeiro, olhando-o como se nunca o tivéssemos visto antes; como se estivéssemos acabando de nascer para o mundo.
A filosofia inicia sua investigação num momento muito preciso: naquele instante em que abandonamos nossas certezas cotidianas e não dispomos de nada para substituí-las ou para preencher a lacuna deixada por elas. Em outras palavras, a filosofia se interessa por aquele instante em que a realidade natural (o mundo das coisas) e a realidade histórico-social (o mundo dos homens) tornam-se estranhas, espantosas, incompreensíveis e enigmáticas, quando as opiniões estabelecidas disponíveis já não nos podem satisfazer. Ou seja, a filosofia se volta preferencialmente para os momentos de crise no pensamento, na linguagem e na ação, pois é nesses momentos críticos que se manifesta mais claramente a exigência de fundamentação das ideias, dos discursos e das práticas.
Assim como cada um de nós, quando possui desejo de saber, vai em direção à atitude filosófica ao perceber contradições, incoerências, ambiguidades ou incompatibilidades entre nossas crenças cotidianas, também a filosofia tem especial interesse pelos momentos de crise ou momentos críticos.
Para que filosofia?
Costuma-se chamar de "filósofo" alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são completamente inúteis.
Essa pergunta, "Para que filosofia?", tem a sua razão de ser. Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prática muito visível e de utilidade imediata. Quando se pergunta "Para quê?", o que se pergunta é: "Qual a utilidade?".

Verdade, pensamento racional, procedimentos especiais para conhecer fatos, aplicação prática de conhecimentos teóricos, correção e acúmulo de saberes: esses propósitos das ciências não são científicos, são filosóficos e dependem de questões filosóficas.
O trabalho das ciências pressupõe, como condição, o trabalho da filosofia.
Estudando as paixões e os vícios humanos, a liberdade e a vontade. A filosofia teria como finalidade ensinar-nos a virtude, que é o princípio do bem viver.
Mesmo que disséssemos que o objeto da filosofia não é o conhecimento da realidade nem o conhecimento da nossa capacidade para conhecer, mesmo que disséssemos que o objeto da filosofia é apenas a vida moral ou ética, ainda assim o estilo filosófico e a atitude filosófica permaneceriam os mesmos, pois as perguntas filosóficas - o quê, por que e como - permanecem.
Atitude filosófica: indagar
atitude filosófica possui algumas características que são as mesmas, independentemente do conteúdo investigado. Essas características são:
·  perguntar o que é
·  perguntar como é

·  perguntar por que é
A reflexão filosófica
·  reflexão
Palavra empregada na física pana descrever o movimento de propagação de uma onda luminosa ou sonora quando, ao passar de um meio para outro, encontra um obstáculo e retorna ao meio de onde partiu. É esse retorno ao ponto de partida que é conservado quando a palavra é usada na filosofia para significar o movimento de volta sobre si mesmo ou o movimento de retorno a si mesmo.
A reflexão filosófica é o movimento pelo qual o pensamento, examinando o que é pensado por ele, volta-se para si mesmo como fonte desse pensado.
A atitude filosófica dirige-se ao mundo que nos rodeia e aos seres humanos que nele vivem e com ele se relacionam, exterior ao pensamento.
Já a reflexão filosófica se dirige ao pensamento, à linguagem e à ação. São perguntas sobre a capacidade e a finalidade de conhecer, falar e agir próprias dos seres humanos, interior aos seres humanos.
Filosofia: um pensamento sistemático
As indagações fundamentais da atitude filosófica e da reflexão filosófica não se realizam ao acaso. A filosofia não é feita de "achismos" nem é pesquisa de opinião à maneira dos meios de comunicação de massa. As indagações filosóficas se realizam de modo sistemático.
·  sistema
Palavra de origem grega; significa "um todo cujas partes estão ligadas por relações de concordância interna". No caso do pensamento, significa um conjunto de ideias internamente articuladas e relacionadas, graças a princípios comuns ou a certas regras e normas de argumentação e demonstração que as ordenam e as relacionam num todo coerente.
A filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos. Não se trata de dizer "eu acho que", mas de poder afirmar "eu penso que".
O conhecimento filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático porque não se contenta em obter respostas para as questões que se apresentam, mas exige que as próprias questões sejam válidas e que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de ideias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente.

Pressente-se que a filosofia opera sistematicamente, com coerência e lógica.

Em busca de uma definição da filosofia
1. Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. Nessa definição, a filosofia corresponderia, de modo vago e geral, ao conjunto de ideias, valores e práticas pelos quais uma sociedade apreende e compreende o mundo e a si mesma, definindo para si o tempo e o espaço, o sagrado e o profano, o bom e o mau, o justo e o injusto, o belo e o feio, o verdadeiro e o falso, o possível e o impossível, o contingente e o necessário.

Qual o problema dessa definição? Ela é tão genérica e ampla que não permite, por exemplo, distinguir entre filosofia e religião, filosofia e arte, filosofia e ciência.
2. Sabedoria de vida. A filosofia seria, nessa definição, uma escola de vida ou uma arte do bem viver; seria uma contemplação do mundo e dos homens para nos conduzir a uma vida justa, sábia e feliz, ensinando-nos o domínio sobre nós mesmos, sobre nossos impulsos, desejos e paixões. Essa definição, porém, nos diz, de modo vago, o que se espera da filosofia (a sabedoria interior), mas não o que é e o que faz a filosofia.
3. Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada de sentido. Universo é uma totalidade, algo estruturado ou ordenado por relações de causa e efeito.
Os que adotam essa definição precisam começar distinguindo entre filosofia e religião e até mesmo opondo uma à outra, pois ambas possuem o mesmo objeto (compreender o Universo). Mas a primeira o faz por meio do esforço racional, enquanto a segunda, por meio da confiança (fé) numa revelação divina. No entanto, essa definição também é problemática, porque dá à filosofia a tarefa de oferecer uma explicação e uma compreensão totais do Universo, elaborando um sistema universal; mas sabemos, hoje, que essa tarefa é impossível.
É verdade que, nos seus primórdios, a filosofia se apresentava como uma explicação total sobre a realidade (não havia distinção entre filosofia e ciência). No entanto, a nos dias de hoje pelo menos duas limitações a essa pretensão totalizadora: em primeiro lugar, a filosofia e as ciências foram se separando no decorrer da história, e o saber científico se dividiu em vários saberes particulares.
4. Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas.
·  Fundamento
Palavra de origem latina; significa “uma base sólida”. Do ponto de vista do conhecimento, significa “a base ou o principio racional que sustenta uma demonstração verdadeira”.
·  teoria
Palavra de origem grega que significa 'contemplar uma verdade com os olhos do espirito”, isto e, uma atividade puramente intelectual de conhecimento. Desse ponto de vista, uma fundamentação teórica significa 'determinar pelo pensamento, de maneira logica, metódica, organiza- da e sistemática o conjunto de princípios, causas e condições de alguma coisa”.
Sob esta perspectiva, fundamentar significa "encontrar, definir e estabelecer racionalmente os princípios, as causas e condições que determinam a existência, a forma e os comportamentos de alguma coisa, bem como as leis ou regras de suas mudanças”.
A fundamentação crítica significa, portanto, “examinar, avaliar e julgar racionalmente os princípios, as causas e condições de alguma coisa (de sua existência, de seu comportamento, de seu sentido e de suas mudanças)”.

A filosofia como fundamentação teórica e critica

Nessa condição, a filosofia se volta para o estudo das várias formas de conhecimento (percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão) e dos vários tipos de atividades interiores e comportamentos externos dos seres humanos como expressões da vontade, do desejo e das paixões, procurando descrever as formas e os conteúdos desses modos de conhecimento e desses tipos de atividade e comportamento como relação do ser humano com o mundo, consigo mesmo e com os outros.
A atividade filosófica é, portanto, uma análise, uma reflexão e uma crítica.

Útil? Inútil?

primeiro ensinamento filosófico é perguntar: "O que é o útil?”, "Para que e para quem algo é útil?”, "O que é o inútil?”, "Por que e para quem algo é inútil?".
O senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza.
Platão definia a filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos seres humanos para que vivam numa sociedade justa e feliz.
Descartes dizia que a filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a invenção das técnicas e das artes com as quais ficam menos submetidos às forças naturais, às intempéries e aos cataclismos.
Merleau-Ponty escreveu que a filosofia é um despertar para Ver e mudar nosso mundo.
Espinosa afirmou que a filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade.
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para sermos conscientes de nós mesmos e de nossas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a filosofia é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes.

“Somente pensamos quando confrontados com um problema” John Dewey (1859-1952)

John Dewey pertence à escola filosófica conhecida como pragmatismo, surgida nos Estados Unidos no final do século XIX. Considera-se como seu fundador Charles Sanders Peirce, que em 1878 escreveu um ensaio inovador chamado Como tornar claras as nossas ideias.
Ao assumir uma perspectiva pragmática, não devemos ficar perguntando “é dessa forma que as coisas são?", mas “quais são as implicações práticas ao se adotar essa perspectiva?".
A filosofia começa a partir das esperanças, das aspirações humanas cotidianas e dos problemas que surgem no curso da vida. Sendo este o caso, Dewey considerou que a filosofia devia também ser um meio de encontrar respostas práticas a tais questões (problemas da vida).



Criaturas em evolução

Para Dewey, uma das implicações do pensamento de Darwin é que ele exige que pensemos sobre os seres humanos não como essências fixas criadas por Deus, mas como seres naturais.
“Não solucionamos problemas filosóficos, nós os superamos.” John Dewey

Tudo muda

Dewey também tomou de Darwin a ideia de que a natureza como um todo é um sistema em estado constante de mudança, ideia que, em si, ecoa a filosofia do antigo grego Heráclito.
A existência é um risco, ou um jogo, e o mundo é fundamentalmente instável. Dependemos do ambiente para ser capazes de sobreviver e prosperar, mas os muitos ambientes nos quais nos encontramos estão sempre mudando. Não apenas isso: tais ambientes não mudam de forma previsível. Somos saudáveis durante anos e, então, a doença nos atinge quando menos esperamos.
Diante da incerteza, Dewey dizia que existem duas estratégias diferentes a adotar: apelar para seres mais elevados e forças ocultas do universo em busca de auxilio ou procurar entender o mundo e adquirir o controle sobre o ambiente.

Apaziguando os deuses

A primeira dessas estratégias envolve tentar agir sobre o mundo por meio de ritos mágicos, cerimônias e sacrifícios. Essa abordagem à incerteza do mundo, Dewey acreditava, forma a base tanto da religião quanto da ética.
Na história que Dewey contou, nossos ancestrais cultuavam os deuses e espíritos como modo de tentar se aliar aos “poderes que concedem a fortuna".  Da mesma maneira, Dewey acreditava que a ética surgiu das tentativas de nossos ancestrais para apaziguar as forças ocultas - contudo, enquanto eles ofereceram sacrifícios, nós barganhamos com os deuses, prometendo agir com bondade se formos salvos dos males.
A resposta alternativa às incertezas do mundo mutável é desenvolver várias técnicas para controla-lo, de modo que possamos nele viver mais facilmente. Podemos aprender a prever o tempo, a construir casas para nos proteger dos extremos do clima, e assim por diante. Em vez de tentar nos aliar às forças ocultas do universo, essa estratégia envolve encontrar meios para revelar como o ambiente funciona para, então, nos empenhar para transformá-lo em nosso beneficio.
Mas a vida é inevitavelmente perigosa.

Uma filosofia luminosa

Tradição e ciência: A filosofia, na visão de Dewey, é o processo pelo qual tentamos superar as contradições entre esses dois tipos de resposta aos problemas da vida. Por exemplo: descobrir que essas crenças estão em choque com o conhecimento e o pensamento que adquiri com o estudo das ciências.
Há duas maneiras para julgar se uma forma de filosofia é bem-sucedida. Primeiro, devemos perguntar se ela tornou o mundo mais inteligível.
Ele criticava qualquer abordagem filosófica que, ao fim, tornasse nossa experiência mais confusa ou o mundo mais misterioso. Segundo, Dewey considerava que devemos julgar uma teoria filosófica segundo seu êxito em ser aplicada aos problemas da vida.

Uma influência prática

Vários filósofos, como Bertrand Russell, criticaram o pragmatismo por entendê-lo como a desistência da longa busca filosófica pela verdade. Todavia, a filosofia de Dewey foi muito influente na América. Uma vez que Dewey enfatizou a busca de respostas aos problemas práticos da vida, não é surpresa que grande parte de sua influência esteja em terrenos práticos, como educação e política.
“ Educação não é uma questão de falar e ouvir, mas um processo ativo e construtivo.” John Dewey

Referências:

CHAUI, Marilena. Filosofia: Novo Ensino Médio, Volume único. São Paulo: Ática, 2010, p.18-27.

BUCKINGHAM, Will; BURNHAM, Douglas. O livro da Filosofia. São Paulo: Globo, 2011, p.228-231.

Atividades
1 – O que quer dizer a palavra crítica?
2 – Em qual instante se inicia a investigação filosófica?
3 – O que nos leva a ir na direção da atitude filosófica?
4 – Por que se pergunta “Para que filosofia”?
5 – O que é e como é a reflexão filosófica?
6 – Explique como é o trabalho filosófico.
7 – O que John Dewey considerava a respeito da filosofia?
8 – De acordo com Dewey, o que nossos ancestrais esperavam conseguir apaziguando as forças ocultas?
9 – Que tipo de filosofia era criticada por Dewey?

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